sexta-feira, 24 de outubro de 2008

A história de Rita e Mateus - Você sabia ser bonito

Você era bonito e encantava as pessoas, sendo bonito de uma altura larga, ombros vastos, olhos escuros da cor do cabelo ondulado, que às vezes você raspava e eu achava lindo, os primeiros botões da camisa sempre abertos, os tons quase sempre pastéis de onde se via o início do pescoço, os pelos do peito; as pernas, os braços fazendo gestos, você fumava um cigarro e me olhava e sorria com a mesma boca que, você contava, tinha sido eleita “a melhor boca” no colégio e eu ouvia sempre essa história com ciúme das menininhas que conheceram você antes de mim, como ouvia as histórias sobre a casa enorme em que você morava, sobre seu sonho de ser Imperador quando crescesse, que depois mudou para Papa, e enfim, bombeiro, como todas as crianças. Eu, que sempre quis ser aeromoça, não me encantava apenas com sua beleza, que dava vontade de ficar olhando pra você, mas com o conjunto que você compunha, sentado no sofá, ou sentado numa cadeira de palhinha (a sua preferida), segurando um cigarro e dizendo aquelas coisas fascinantes, (era de solidez, sua beleza), embevecendo não só a mim, (tinha consistência, seu corpo), como ao grupo com quem a gente conversava, “que mistérios tem o Mateus pra você, Rita?”, um amigo me perguntou, uma vez. O seu fato era de beleza sendo sua beleza apenas mais um dos ímãs que atraía os olhares das pessoas a você quando eu gostava também do seu jeito de se vestir sem prestar atenção, (e o jeito desatento de tirar a roupa contando histórias prestando mais atenção no que dizia do que nas roupas que você ia jogando na poltrona), o jeito desligado de despejar a suéter no ombro, “essa suéter é minha?”, você perguntava quando eu usava suas roupas, e ria, “eu mesmo não conheço minhas roupas”. Você não era daqui, “você não é daqui desse planeta, sabia?”, eu perguntava, quando a gente, aos domingos à tarde, ficava olhando o Leblon pela janela. Você, virado para a frente, respondia que “você é outra coisa, você é única, Rita”, e esbarrava com seu ombro no meu, sem me olhar, a gente sabendo do que você estava falando, eu via você, eu dizia “eu tou te vendo”, você ria, soltava a fumaça do cigarro, e eu acreditava que nós éramos as pessoas mais felizes do mundo.

Sem comentários: