sexta-feira, 24 de outubro de 2008

As flores esta noite

Eles se encontram como se nunca tivessem se separado. Num pijama da hello kitty azul, ela senta na escada esperando ele descer pelo elevador. "Paizinho", e levanta os bracinhos pedindo colo. São sete horas de uma manhã linda de outono. Parece poesia, mas é verdade pura. Me arrumo pro trabalho e deixo os dois largados no sofá como se tivessem passado a vida toda ali, vendo televisão. Ganho o dia e novas emoções. Na hora do almoço, o menino vira-se para mim no restaurante, entregue, e diz que o pior que há são os casais que jantam juntos sem trocar uma só palavra. Mal me quer, bem me quer, tudo pode ser visto com a lente de pétala que escolhemos desfolhar. Contorno o dia e seus mistérios vencendo o resto da gripe com meus olhos aveludados. "Você se derrete para ele", disse outro dia uma amiga que nos viu juntos. Será mesmo? Entre o amor e a vontade de amar há tantos passos. Chego em casa à noite para encontrá-los novamente no sofá: "levei-a à aula de tênis". Ela ri com seu sorrisinho banguela de quem perdeu o primeiro dente, e diz: "Paizinho, tou com fome". Os dois ganham a cozinha em busca de leite quente e bolachas. Eu ganho a vida, como se fossem flores esta noite.

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