sexta-feira, 24 de outubro de 2008

A história de Rita e Mateus - Uma voz do outro século

Você era uma voz do outro século um sarau à fresca à varanda à luz de velas uma conversa sempre aprazível e amena e apreço e beiral e maçãs da face eram algumas das expressões que você usava como se fosse um senhor dos outros tempos que você era, “não acho meu livro de cheques”, você dizia e essa era a conversa que me esperava, sentado no sofá, não às sete, que nossos horários eram outros (essa coisa das horas) mas enfim então era essa conversa de pernas cruzadas e afeto que me esperava ou seria eu quem esperava por ela vendo televisão para depois comentar com você essa voz do outro século esse senhor secular pai de família austero de cores escuras e vaidade enxuta como bem cabe ao pai de família que você é o pai de nós dois sempre olhando para mim, “eu olho para você, Rita, você acha que eu não olho, mas eu olho, Rita”, você me dizia, me chamando pelo nome, respeitável e senhorial como cabe a um senhor do outro século de mucamas e confessionários e conversadeiras e as tardes e os tons, mas os tons não, que o tom dos dias era você quem dava.

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