quarta-feira, 21 de julho de 2010

hora de dormir

o olho redondo virado pra mim, a bochecha esprimida no travesseiro, a camisola de pele de ovo branquinha amarfanhada, a mecha de cabelo atravessando o rosto, eu digo: "dorme", ela insiste que não está com sono, "quero um leite", ela diz. Me arrasto pra esquentar um leite no microondas, ela espera no quarto lutando contra o sono, quando chego com o leite o sorriso se abre, senta na cama tão feliz que chega dá pena, pede: "conta uma história da bisa", eu digo que não, que agora é hora de dormir, o leite entorna no edredon branco e escorre pela caneca, "foi só um pouquinho", ela diz, limpando com a camisola. "pronto, agora, chega, dormir!", limito; "quero fazer xixi", vai ao banheiro e depois volta e continua o olho redondo virado pra mim. É verão, durante as férias pode dormir na cama da mãe, "todos os dias?", "sim todos os dias", respondo. Abro o livro e o olho redondo continua virado pra mim: penso até quando vai durar esse fascínio, até quando ela vai querer dormir comigo todas as noites, seguro esse momento sabendo que ele é feito de água e escorre pela mão, feito o tempo, a noite, o leite.