sexta-feira, 24 de outubro de 2008
A história de Rita e Mateus - E você era engraçado
E você era engraçado e então a gente ria mas a gente ria tanto a gente ria que se engasgava a gente era um vermelho gargalhada dando risada se arrebentando de rir as lágrimas caindo fazendo xixi de tanto que a gente ria e tinha que parar o carro no meio da rua para não bater de tanto que a gente ria quando conversava você dirigindo eu implicando, “anda, o sinal abriu”, e a gente rindo rindo rindo como quando a gente foi expulso do cinema de tanto que a gente riu veio o lanterninha, ameaçou acender a luz foi até meio chato e a gente ainda assim saiu se dobrando de tanto rir a vida passando você dizia coisas tão mas tão engraçadas e aconteciam as coisas mais engraçadas com você que parecia mentira (e às vezes eu até acho que você mentia mesmo para me agradar e me fazer rir ainda mais) como naquele dia em que deu uma pane no sistema elétrico do seu carro e a buzina disparou e dispararam também o limpador de pára-brisa, a agüinha que limpa o vidro e todos os faróis traseiros e dianteiros que ficaram piscando, justo quando você pela primeira vez dava carona para a sua chefe no trabalho voltando da universidade e vocês ainda pegaram um engarrafamento e, você me contou, o tempo todo no engarrafamento a buzina não parou de tocar aquele constrangimento dentro do carro e você contou até do motorista de táxi que ria da cena, oferecendo carona, “a gente deixa ela e depois volta pra buscar o carro, topa?”, ofereceu, referindo-se à sua chefe, toda arrumada, a sua cara chegando em casa e me contando essa história, e teve também a vez que você foi passar um fim-de-semana em Angra e quando estava no maior bem bom, nadando longe da praia viu que os quatro rothweiller do dono da casa mergulhavam e vinham atrás de você e você viu o dono da casa acenando para você sair da água e só aí você lembrou que o cara era nadador profissional e que tinha treinado os animais para nadar com ele, “aí eu turbinei”, você me contou, eu passando mertiolate, você todo arranhado, de ter subido no deck desesperadamente, “sabe Tubarão?, sabe Jaws?, era a-qui-lo”, você contava e eu me dobrava de rir ainda quando a gente teve um ataque de riso e isso foi ainda nos tempos de faculdade que a gente riu tanto mas a gente riu tanto tanto que a professora perguntou de quê que a gente ria e você respondeu que era do fecho-ecler (que você, como um senhor do outro século, chamava de braguilha), do fecho-ecler dela, que estava aberto e até hoje não sei como a gente não foi expulso de sala e reprovado naquela matéria, lembra?, mas o melhor mesmo foi quando você bateu de carro porque tinha uma barata do lado de fora do vidro pára-brisa, às quatro da manhã, “joguei o carro contra um gelo baiano e me lancei pela porta direita, acabei caindo pra fora do carro e meus óculos voaram no chão, minha sorte foi que vinha passando uma velhinha passeando seu cachorro que catou os óculos no chão pra mim e ainda matou a barata!”, você espantado com a sorte enfim, você era engraçado e mudava os acordes, as texturas, os tons, mas os tons não, que o tom das noites e dos dias e da vida era você quem dava.
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