quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Festa do pijama

Domingo à noite deixamos a avó na Santa Apolônia, a carinha de choro, "eu quero viajar com a vó", e afunda o rosto na minha barriga, a avó se rasga toda, entramos no trem, a avó mostra a cabine, o vagão restaurante e na hora de saltar, os olhinhos espichados de novo, "eu quero viajar com a vó", ela insiste sofrendo; despedidas e de mãos dadas cortamos a gare de volta ao carro, "que tal fazermos uma festa do pijama, mamãe?", a impressionante capacidade de recuperação. Claro que sim, vamos fazer pipocas, tomar sorvete, "as pipocas acabaram", (ela controla os estoques), não faz mal a gente compra. Ainda domingo à noite, banho tomado e cabelo lambido, camisola da hello kitty, a minha camisola de pele de ovo comprada há mais de dez anos no mercado da prisão no Rio Grande do Norte. A brisa de Natal percorre a sala, atravessando o Atlântico: ela assiste desenho deitada no sofá, no colo o bowl das pipocas, o saco de batatas fritas e o pacote de gomas. Levanta-se sozinha e vai buscar um sorvete no congelador. As pipocas dançam pela sala conduzindo meu coração.

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