quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Esta tarde

Esta tarde levo comigo todos os que ficaram para trás, o Brasil todo, os amigos e os que não chegaram a ser amigos, os que não quiseram se associar, aqueles a quem me associei e a vida separou, levo comigo nesta tarde todos os lugares por onde passei, o pátio do colégio, a lavanderia da casa da Urca, o Jornal Nacional, os finais de tarde no verão, a vista da Baía, o globo terrestre do escritório do meu avô, meu pai jovem levando-nos para vê-lo jogar futebol aos sábados, a Galeria Menescal, Copacabana inteira nos anos 70 eu levo comigo, as cores estouradas das fotos confundem-se com tudo que levo comigo, mais o suco de caju Maguary, a lapiseira do meu avô, a letra caprichada, o primeiro beijo na Praia Vermelha, o primeiro namorado, a caixa pesada do violão, o sinal chamando para a hora do recreio, o Rio de Janeiro no inverno, a sensação de abandono quando começava a anoitecer, tanta coisa que levo comigo, as rabanadas no Natal, as viagens de carro para Santana do Deserto, o Baixo Gávea, a letra arredondada nos cadernos do colégio copiando tudo que o professor dizia, tudo isso e mais o João e nossas lembranças, nosso passado sagrado, imprescindível, perfeito em todos os equívocos cometidos, perfeito até em todo o tempo perdido e recuperado aqui, nesta tarde.    

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