terça-feira, 2 de setembro de 2008

Sentada na escada

Carinha amassada, acabando de acordar, ela senta na escada: "Posso ir trabalhar com a mãe?", o último dia de férias, a vida amanhã voltando àquilo que chamamos normal, muito entre aspas, aliás, a vida toda entre aspas, neste período em que parecemos estar flutuando, à espera de um algo misteriosamente importante, às portas de um espetacular acontecimento que fará virar a vida feito o tempo no domingo à tarde: a baía de Cascais, crianças com algodão doce, Manuela com um balão em forma de borboleta deitado pela força do vento, tiramos fotos de frente pro mar, avó e neta abraçadas sorriem pra mim, parece fim de filme quando tudo acaba bem e sobem os créditos ao som de uma música doce, suave, aconchegante. As férias chegam ao fim e as revejo em flashback, cada passeio à noite: "a Manuela está saindo à noite", ela impressionada, feliz. O peso de cada palavra que lhe é dito, a alegria de cada sorvete. Digo pra carinha: "Hoje não, florzinha, hoje a mãe vai ter muito trabalho". Ela fica sentada na escada, eu fecho a porta.

Sem comentários: